Lembro-me de um rapaz que visitou o templo. Num raro sábado sem casamento. Ele me ofereceu a passagem de ônibus dele para o litoral, assim eu poderia visitar meus pais naquele domingo. Ida e volta. Limparia o piso na segunda-feira com o coração cheio. Meu pai faleceu quatro dias depois disso.
De resto, os velhinhos diáconos e suas famílias passaram por mim e sobre mim. Mesma postura do viúvo pastor, que insistiu em esquecer meu nome. No meu vazio velório, porém, ninguém velou. Só ele. Ele só, sozinho. E se lembrou do meu nome.
A solidão do pregador foi a minha companheira. Nas minhas vassouras eu encontrei amizade que ele não achou em suas canetas e, depois, em seu teclado e tela de computador. Faz um trabalho para outros homens e, por isso, foi abandonado.
Eu não. Nunca senti o gosto do abandono. Agora descanso com quem sempre esteve ao meu lado. E me pergunto: se o pregador e os velhinhos diáconos e os adolescentes endiabrados são sozinhos enquanto acompanhados, se dispensam a presença Dele, por que vão querer ficar aqui com Ele quando morrerem?
Conto inspirado em conversas com o amigo Rick Marino, nas músicas Eleanor Rigby, de Paul McCartney, e Quando se está só, de Sérgio Pimenta e Nelson Bomilcar.*Os Contos da Cripta deste blog são histórias fictícias de gente que está tentando morrer um pouquinho para que Cristo viva. É ficção, mas pode acontecer com qualquer um.
2 comentários:
mto bom!
Autch!
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