quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Contos da Cripta: Dando trabalho a quem dá trabalho

De um lado a outro do templo, 37 bocejos. Não que a pregação esteja ruim. Esse pastor novo de adolescentes até que é engraçado, mas convenhamos, quem nunca deu uma "pescada" no culto? O seu rosto vai se inclinando para baixo e as pálpebras ficam pesadas. É inevitável. Você luta contra o sono e, repentinamente, acorda num supetão.

Não sei se isso é pecado, mas se for, já tem seis irmãos que vão vacilar na hora em que o pastor emérito disser: "examine-se cada um...", antes de iniciar a celebração da ceia, imputando um sentimento de culpa que me leva a celebrar com muito maior alegria!

A minha surpresa mesmo é que pouca gente dorme na hora de cantar "Deus dos Antigos", que mais parece canção de ninar, mas não. Esta é a hora de mandar SMS ou Twittar. Seriam smartphones do capeta? Alguém já disse que hinos são poesia de quinta categoria com música de sexta. Acho que foi um escritor de segunda.

Pronto, 38 bocejos. Mais dois e dou um sinal pro pastor. Minha missão é esta: cronometrar sermões e contar bocejos. Quando chegam a 40, aviso o pastor de jovens e ele termina a pregação em, no máximo, cinco minutos. Depois, coloco tudo na planilha e faço um levantamento de bocejos por minuto e mapeamento do sono do templo por lugar sentado.

O índice de pescadas no fundo da igreja é maior, mas nem tanto. Hoje em dia tem muita gente que perdeu a vergonha de dormir na cara do pastor. Especialmente o dirigente de louvor, que toca na noite no sábado e não tem pique pra agüentar o culto de domingo. Ele vem com uns papinhos de igreja emergente, que até agora não entendi direito do que se trata.

Adorei a função que esse pastor mocinho me deu. Posso e devo reclamar de tudo durante o culto e a única condição que ele impôs foi: “quero os relatórios só para mim. Nada de ficar criticando o culto na frente dos outros”. Em 55 anos de igreja, é a primeira vez que me dão um ministério. E pensar que eu já achei igreja uma coisa chata...
Conto inspirado em uma ácida descrição que C.S. Lewis fazia da igreja. Embora fosse um crítico ávido dos cultos públicos, especialmente de sua estética, Lewis defendia que o cristão não podia se dar ao luxo de deixar de frequentá-los.

*Os Contos da Cripta deste blog são histórias fictícias de gente que está tentando morrer um pouquinho para que Cristo viva. É ficção, mas pode acontecer com qualquer um.

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