quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O Acre existe

Há exatos 16 anos, no dia 28 de fevereiro de 1992, o julgamento de Darli Alves da Silva era anulado. Se isto não te diz nada, como brasileiro e cristão, recomendo que você leia atentamente os parágrafos abaixo.

Zuenir Ventura e a questão da borracha

Duas décadas após sua morte, Chico Mendes continua atual. É isto que mostra o livro de Zuenir Ventura, Chico Mendes – Crime e Castigo.

Com três viagens ao Acre, o repórter conta, com riqueza de detalhes, a história do assassinato do líder seringueiro em três fases distintas: O crime (o assassinato em si), o castigo (o julgamento dos assassinos) e 15 anos depois (como se encontram os personagens e o estado acreano após uma década e meia do homicídio sofrido pelo defensor das matas).

O autor, ao longo da obra, trata de mostrar como o sindicalista e ativista ambiental Francisco Alves Mendes Filho colocou o Acre, um estado distante, em pauta nas discussões nacionais e internacionais.

Não se trata de um panfleto em defesa da preservação ecológica, mas de um relato, ainda que não seja isento, de como a luta dos seringueiros atrapalhou os fazendeiros da Amazônia, culminando com a morte de seu principal líder.

A influência de Chico Mendes fica evidenciada pelo jornalista, que coloca na boca de Mary Helena Allegretti, antropóloga que lançou o seringueiro internacionalmente, o resultado do trabalho dele.

"Agora, os seringueiros são protagonistas de sua própria história e eu também sou da minha. É uma crítica aos intelectuais que têm que começar a entender que o Brasil não é só Rio e São Paulo. Mas para isso, tem-se que fazer uma revolução dentro de si mesmo", diz ela sobre a causa que defende.

Nos capítulos finais do livro, o autor mostra como Acre mudou após a morte do mártir, que defendia os povos da floresta, mas deixa claro que a questão amazônica continua.

"No Ranking dos estados da Amazônia Legal que mais desmatam, no período 1998-2002, o Acre ocupa o sétimo lugar, entre nove pesquisados, o estado seria responsável assim por 2,7% da área desmatada, perdendo apenas para Roraima (1,1%) e Amapá (0,3%). O primeiro colocado seria o Pará com 33,9% de desmatamento."

Dois anos após o lançamento do livro, em fevereiro de 2005, não por acaso, o Pará foi alvo de situação similar a de Chico Mendes. A Irmã Dorothy, presente na Amazônia desde a década de setenta, foi assassinada.

Ela mantinha um trabalho junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu, visando a minimização dos conflitos fundiários do local, além de tentar aliar geração de emprego e reflorestamento do local. O crime deixa claro que o tema Chico Mendes ainda é atual.

Além de colocar a discussão da sustentabilidade das atividades econômicas na floresta amazônica, o livro de Zuenir Ventura também é um exemplo de apuração bem-feita e de valorização dos personagens secundários.

Por meio de desconhecidos, como Genésio Ferreira da Silva, uma das principais testemunhas do crime ou do médico Efrain Mendoza Mendivil, que teria ouvido o anúncio da morte de Chico cinco dias antes do assassinato, o autor vai desvendando aos poucos cada mistério em redor do homicídio.

Um comentário:

Éverton Vidal Azevedo disse...

Existe e é imponente!
Sou acreano rsrsrs
Quanto ao Chico - o profeta do meio Ambiente ... sua voz vai continuar ressoando nos coraçoes dos que amam a floresta.

abcs!
Inté!