Uma obra de carpintaria dependurada no meu retrovisor. E quando olho a imagem refletida nele, enxergo a carpintaria humana em ação. Ninguém imagina a cidade que se vê do meu táxi.
É um amontoado de realidade. Ninguém imagina o que se ouve dentro de um táxi. São as visões da realidade.
Nossa conversa também toma um rumo alternativo. Quando pergunto a ele porque resolveu trabalhar com contabilidade, ele me responde que não sabe. Achava que poderia ganhar algum dinheiro e usar números, mas sem as complicações da engenharia.
Decido moldar um pouco do caráter deste moço. Uns 15 minutos para chegarmos ao destino. Pergunto a ele o que o faz chorar. Ele não sabe responder. Eu digo que uma mão acostumada a pregar chora toda vez que é pregada. Digo que só vai saber direito o que quer da vida quando descobrir aquilo que o faz chorar.
Pessoas precisam de gente para conversar. A solidão me faz chorar. Por isso, sou um ótimo taxista. Meu carro nunca está vazio.
Um homem inteligente com a mão no volante, depois de uns 15 anos de profissão, vira um dos homens mais sábios da Terra. Porque vê a Terra o dia todo. E porque ouve o que pensam dela o dia todo. E no fim, acho que tudo se resume à tarefa de carpintaria. Por isso, sempre carrego o carpinteiro no meu carro.
Conto inspirado na música "Daqui pro Méier", de Ed Motta.
*Os Contos da Cripta deste blog são histórias fictícias de gente que está tentando morrer um pouquinho para que Cristo viva. É ficção, mas pode acontecer com qualquer um.